A tonalidade não é uma coisa inerente à música. Tonalidade é arranjo!
Mudar o tom não descaracteriza a música e portanto não é nenhum tipo de heresia. Cada um toca no tom que lhe for mais conveniente. Saber tocar em qualquer tom é uma das habilidades mais valiosas e ricas que um músico pode ter.
Em alguns contextos, como na roda de choro por exemplo, faz sentido todo mundo aprender e tocar sempre no mesmo tom. Normalmente no tom original em que a música foi gravada ou escrita pelo autor. Como todo mundo estuda no mesmo tom, não há porque ficar querendo mudar!
Mas fora isso, o ideal é tocar ela no melhor tom possível pra sua extensão de voz ou na escala que for mais fácil no seu instrumento. No seu melhor tom, você vai cantar (ou tocar) ela muito mais facilmente e portanto muito mais bonito!
O seu melhor Tom
Cada música que a gente for cantar vai ter um tom ideal diferente. Isso porque cada música explora uma certa região da escala. Como assim?
Imagine que esses são os começos de 3 músicas diferentes, as três em C maior:
Essa explora a região ‘alta’ da escala, acima do C:
Essa explora o meio da escala, ‘ao redor’ do C:
E essa é mais grave, se desenvolvendo ‘abaixo’ do C:
Cada uma delas provavelmente vai ficar melhor em um tom diferente pra você… Digamos que a segunda delas fica muito confortável pra você. Isso quer dizer que a primeira ficaria melhor num tom um pouco mais baixo… talvez em A; e que a terceira ficaria melhor lá pelo E ou F…
Achar o tom ideal significa achar a altura da música que melhor se alinha com a extensão da sua voz.
A extensão da voz
Algumas pessoas têm a voz mais aguda e outras mais grave. A turma do canto coral caracteriza a voz em 4 principais grupos, do mais agudo pro mais grave: dois femininos (soprano e contralto) e dois masculinos (tenor e baixo).
Seja como for, a extensão da voz humana normalmente é de umas duas oitavas. Tem gente que aguenta mais, tem gente que aguenta menos. Mas no geral a voz da gente consegue cantar umas duas oitavas. Isso sem contar, é claro, com aquela vozinha fininha que a gente consegue fazer, que se chama falsete.
A minha voz, por exemplo, vai de um F até outro F, duas oitavas acima.
Sendo que o F mais grave é uma nota bem grave pra mim, e o F lá de cima é uma nota já bem alta, que fica quase pedindo pra eu fazer um falsete. Então o ideal pra mim é cantar músicas que fiquem dentro de uma oitava e meia, mais ou menos. Digamos, de um A até o D da outra oitava.
O Tom do Tom
Tomemos como exemplo ‘As Águas de Março’, do Tom =) (trocadilho infame aqui).
Da nota mais grave à mais aguda da melodia tem exatamente uma oitava (essa é uma música pouco extensa).
O legal dessa melodia é que a nota mais grave é a tônica e mais aguda também. Ou seja, se a música for tocada em A, a nota mais grave é um A e a mais aguda o outro A. Então fica fácil explicar =)
Nessa gravação aí abaixo, Tom e Elis gravaram ela em Bb. Eu aprendi ela pela primeira vez em A, que é um tom fácil de aprender no violão. Mas o tom ideal pra eu cantar é o C!
Quais são as opções?
A melodia dessa música tem uma oitava de extensão, e minha voz possui uma extensão mais confortável de um tom e meio. Então tenho que escolher um desses tons aqui:
Temos 6 opções A, Bb, B, C, C# e D.
Sendo o B e o C# tons chatos de tocar no violão, eu não consideraria eles. Por que no fim das contas, se o tom ideal da sua voz for B, isso quer dizer que o Bb e o C são tons também muito bons! Sendo eles mais fáceis de tocar, me parecem escolhas bem melhores!
Ficamos então com 4: A, Bb, C e D.
Os 4 tons são ‘cantáveis’ pra mim. O A é bem gravão. O Bb fica grave, mas bom quando a gente está mais tímido, numa sala de estar, afim de usar um tom mais intimista. O D seria bom num ambiente agitado e barulhento, tipo uma roda de samba com muita gente (ou com gente mal educada) em volta. (As notas mais agudas são mais fortes, mais volumosas, mais fáceis de se ouvir.)
No meu caso, eu ficaria com o C como o ‘melhor tom’. É um tom confortável, e que me deixa com duas cartas a mais na manga, pra ocasiões especiais, uma mais grave (eu acabaria ficando com o o A, que é mais fácil que o Bb no violão) e uma mais aguda (o D).
Um tom péssimo!
Agora imagine que alguém vai me acompanhar ao violão e puxa essa música em G. Ou a música fica toda muito aguda pra mim, ou fica toda muito grave, se eu cantar uma oitava abaixo. Me lasquei! =(
Esse é um sintoma clássico de que você está num tom diametralmente errado: você canta um pedaço da música em uma oitava, bem agudo, e quando fica agudo demais você é obrigado a cantar o outro pedaço na oitava e baixo…
Como achar o melhor Tom?
A melhor forma pra achar o seu tom em uma música é… procurar =)
Sério, não tem outro jeito… Você tem que cantar a música em um tom e ver como é que fica. Se ficar ruim, tenta em outro.
Agora, o que dá pra fazer é procurar com inteligência… Se você tentou a princípio num tom que está muito ruim, então não adianta procurar na próxima mais aguda, que por mais que fique um pouco melhor, ainda vai estar longo do ideal. Nesse caso, é mais fácil pular logo pro outro ‘lado’ da escala, tentando logo uma 4a ou 5a acima.
De qualquer jeito, tem uma habilidade que precisa ser desenvolvida: reconhecer o tom, ou sintonizar nele.
Isso não significa ouvir e saber dizer ‘está em mi’ ou coisa do tipo. Quero dizer reconhecer no sentido de ‘sintonizar’, ‘ouvir’ na mente e saber achar a nota onde a música começa.
Pra falar a verdade, isso não é uma coisa tão fácil não. Às vezes a gente tá bem tranquilo, escuta, concentra e acha a nota direto. Às vezes, você procura, procura, acha que achou… e começa cantando a nota errado. Normal. Eu faço isso até hoje… Depende muito do nosso grau de nervosismo na hora.
Mas isso também é uma coisa que a gente treina.
como treinar
Um exercício ótimo é cantar uma música (ou um pedacinho dela) em um tom qualquer (aquele que estiver na cabeça na hora). Depois parar, chutar uma nota aleatoriamente, e aí tentar começar a música de novo dali.
Outro exercício (pra quem já sabe tocar um instrumento) é tocar o acorde da tônica em um tom, sintonizar, e achar o lugar da melodia com a voz. Depois tocar o acorde da tônica de outra tonalidade e tentar sintonizar de novo achar a melodia. E por aí vai…
Não é fácil. Tem que treinar um pouco… No princípio a gente começa a cantar com as notas ‘erradas’ porque a nota mudou, mas a cabeça ainda ficou sintonizada na tonalidade anterior. Aí com o tempo, tentando, a gente vai aprendendo a achar o tom.
De qualquer forma, essa é uma habilidade genial! Se você consegue mudar de tom na hora que quiser e sair cantando certinho, então você é FERA! =)
E agora?
Talvez você queira saber um pouco mais sobre o que é a tonalidade de uma música..
Mas se preferir, aqui estão algumas dicas para aprender música..