Esse post é uma continuação desse aqui.
No post passado expliquei como se forma o esqueleto de um acorde - a tríade. É a estrutura básica que caracteriza o acorde e determina sua função dentro da escala e da música.
Neste post apresentarei a forma das tríades que aparecem dentro de uma escala. Lembre-se: um acorde só existe dentro de uma tonalidade específica (e portanto dentro de uma escala). Se temos 7 notas na escala, e se cada uma delas pode ser usada para formar uma tríade, não é difícil concluir quantos acordes podemos formar.
A coleção de tríades que formamos a partir das notas de uma escala são conhecidas como Campo Harmônico. É daí que escolhemos quais acordes vamos tocar em uma música. Para isso, precisaremos entender também as funções que eles desempenham e como são encadeados em cadências para criar movimentos de rimas, compondo as frases e períodos da música.
Mas isso é uma história longa. Vamos nos ater ao princípio por enquanto.
Nomenclatura básica dos acordes
Sim, ainda estou devendo um post completão sobre a nomenclatura dos acordes, que é bem relacionada à nomenclatura dos intervalos. Vou explicar apenas o básico aqui para explicitar o que nos importa agora - a ‘forma’ padrão dos acordes que compõem o campo harmônico de uma tonalidade maior.
Sem se aprofundar muito, as tríades podem ter duas formas básicas, dependendo do tamanho da terça que está presente no acorde.
Vou exemplificar com os acordes de primeiro e segundo grau da escala de Dó maior - os acordes de Dó maior e Ré menor.
(Eu alinhei os dois com a tônica pra baixo pra gente poder compara-los, mas são a mesma escala)
Se olhar com atenção para as figuras, verá que a terça do primeiro acorde é um pouco maior que a do segundo. A primeira, que possui 4 semitons, é uma terça maior. A segunda, com 3 semitons, é uma terça menor.
(Se achou confuso, talvez queira dar uma lida neste post sobre intervalos.)
Sobre o nome dos acordes: se a terça for maior, dizemos que o acorde é maior. Se ela for menor, o acorde é menor. Simples assim.
(A quinta também é relevante para o formato do acorde, claro. Mas olhando apenas as tríades do campo harmônico, exceto pela do sétimo grau, todas as outras possuem a quinta justa. Então não nos preocupemos com ela por agora.)
Os acordes maiores nós costumamos denotar apenas pela letra da nota que é a tônica do acorde, como em C
para Dó Maior e F
para Fá maior. Os menores nós colocamos um m
minúsculo, como em Dm
para Ré menor ou Em
para Mi menor.
Isso é o suficiente para podermos seguir em frente:
O campo harmônico de Dó maior
Este é na verdade um exercício que você poderia (deveria) ter feito sem mim. Pegue as 7 notas da escala e forme tríades como eu fiz no post passado. Uma nota (a tônica), a terça dela e a quinta dela. Ou: pula uma, pega a próxima; pula outra, pega a próxima. Simples!
Aqui estão as tríades do tom de Dó maior: (as tônicas estão circuladas, pra ficar mais fácil de ver)
Dê uma olhada com calma nessas figuras e analise quais desses acordes são maiores e quais são menores.
Os acordes do campo harmônico
Aqui está a resposta - as tríades como as encontramos em Dó maior:
C Dm Em F G Am Bø
Veja: temos 3 acordes maiores, três menores e um meio-diminuto (ignore esse último por agora).
Os acordes maiores são aqueles cujas tônicas estão em um Y no ciclo de notas:
Os demais (exceto o chato do 7o) são menores.
Coincidentemente, as menores também formam um Y, mas deitado:
Essa mesma sequência de acordes acontece igualzinho em qualquer tonalidade que a gente pegue.
Veja em Ré maior, por exemplo:
D Em F#m G A Bm C#ø
E em Fá maior:
F Gm Am Bb C Dm Eø
Essa sequência é sempre igual, já que as escalas têm a mesma forma:
O primeiro, o quarto e o quinto graus formam acordes maiores;
O segundo, o terceiro e o sexto formam acordes menores.
(O sétimo é um chato! Deixa ele lá no canto dele por enquanto.)
Esses são todos os acordes que podemos usar?
Sim. De modo geral, quando estamos tocando uma música em uma tonalidade, os acordes que podemos usar são esses 7.
De modo geral… Na prática, nem sempre é assim.
Primeiro, como já disse outras vezes: em música, há sempre uma sacanagem. E tem que haver mesmo! Estamos falando de arte, portanto não se pode fazer sempre igual, ou apenas aquilo que está previsto. Todos querem ser originais, quebrar as regras, transpor as fronteiras. É assim mesmo. Então sempre vai aparecer um Pixinguinha ou um Cartola colocando um acorde totalmente sem sentido (racional) em uma frase e vai ficar lindo! É assim mesmo. Essa é a graça!
Segundo porque muitos acordes são parecidos, mudando apenas uma notinha ou outra. Então sempre é possível fazer substituições por acordes bem parecidos, com apenas uma notinha fora do lugar que acaba servindo pra dar um charme na passagem e fazer o tocador se passar por sabichão.
E, em terceiro lugar, é muito comum as músicas modularem, ou mudarem de tom. Sobretudo em alguns estilos específicos, como é o caso do chorinho. A música começa em um tom, muda para outro, e depois volta. Depois passa em outro tom e volta de novo… (Sim, na maioria das vezes a gente volta!) E assim surgem vários outros acordes para enfiarmos na música - os que estão no campo harmônico desses outros tons.
E ainda que a música não module, é comum a gente estar tocando em um tom e tomar emprestado de outro tom um acorde aqui, outro ali. É o que convenientemente chamamos de Empréstimo Modal. O que também não deixa de ser uma substituição, como também quero explicar em outra ocasião.
E não se engane! Ainda existem outros motivos e explicações para colocarmos acordes malucos no meio das músicas. Lembre-se: estamos falando de arte. Sempre haverão subversões às regras. Mas isso não significa que as regras não existam, ou que não precisemos entendê-las. Muito pelo contrário, concorda?
Decore isso!
Você já sabe, não há outro caminho. É como a tabuada. Tem que saber de cor!
Primeiro, quarto e quinto graus são maiores; Segundo, terceiro e sexto são menores; O sétimo é um chato.
Fora a brincadeira (conveniente) do sétimo, você precisa ter essa ‘forma’ na cabeça. Pegou o violão, alguém está tocando em Mi maior, quais são os acordes? Você tem que saber de pronto. Se precisar pensar e fazer conta, perdeu o bonde. Decore!
Pra ser sincero, nem é tão fácil assim. É muita coisa mesmo. Você precisa lembrar que em Mi maior temos 4 notas ‘sustenidas’ (leia sobre escalas aqui) - F#
, G#
, C#
D#
. Depois tem aplicar o esquema que apresentei aqui, ficando portanto com:
E F#m G#m A B C#m D#ø
Daí, claro, tem que lembrar como faz cada um desses acordes no seu instrumento e saber qual é o acorde certo pra se usar em cada momento…
O acorde certo
E como você vai saber qual acorde deve ser usado em que ocasião?
Como você já deve estar se acostumando, essa é mais uma vez uma resposta longa, que será respondida nos próximos posts.
Agora que sabemos quais acordes existem em uma tonalidade, podemos falar um pouco sobre quais as funções que eles desempenham dentro dela, como são encadeados e por quê.
Fique atento. Vou escrever sobre tudo isso, tim tim por tim tim. Basta um pouquinho de paciência, pois não tenho tanto tempo (como gostaria) pra dedicar a esse projeto… Ainda ;-)
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