Depois das notas, a camada mais simples de estruturas musicais que precisamos conhecer são os intervalos.
O intervalo é a distância que existe entre duas notas. É o que determina a relação entre elas.
Os menores intervalos que usamos na música ocidental moderna têm uma medida que chamamos de Semitom. Como a maioria das pessoas costuma aprender bem cedo, um Tom mede dois Semitons.
As escalas maior e menor, que estamos analisando aqui no blog, são formadas por notas que possuem entre si sempre intervalos com um desses dois tamanhos básicos.
Intervalos são ângulos
Uma das coisas legais de organizar as notas num ciclo, é que o tamanho dos intervalos viram ângulos. Como os 360 graus do círculo são divididos em 12 partes iguais, cada semitom é representado por um ângulo de 30 graus; o Tom pelo de 60. E todos os demais intervalos podem ser vistos como um ângulo, sempre múltiplo de 30.
Uma terça menor, por exemplo, é representada por um ângulo reto (90°) e a terça maior por um ângulo de 120°. Assim fica bem fácil bater o olho e reconhecer esses intervalos!
Nomenclatura dos intervalos
Uma coisa que acho que confunde muito os iniciantes quando estão aprendendo teoria é um detalhe sobre a nomenclatura dos intervalos.
Os intervalos possuem um nome composto de duas ‘partes’, como ‘terça menor’ ou ‘quinta justa’. É como um nome e um sobrenome. O primeiro é sempre uma espécie de ‘numeral’, e o segundo é como um adjetivo que especifica melhor o tamanho exato do intervalo.
Acontece que a esses nomes não seguem uma lógica muito regular. Tem até uma certa lógica mas que não é muito óbvia, sobretudo para os iniciantes. Mas também não é nada de outro mundo, vamos lá:
O primeiro nome é um ‘numeral’ que se refere à estrutura de 7 notas (não à de 12, como algumas pessoas podem intuir). Quer dizer que entre o Dó e o Mi temos sempre uma terça, independente se a terça possui 3, 4 ou 5 semitons!
Não importa se estamos falando do intervalo entre o C# e o Eb, ou entre o C (natural) e o E#. O primeiro ‘termo’ do nome do intervalo só diz respeito aos nomes das notas.
O segundo termo sim, especifica com exatidão quantos semitons existem naquele intervalo. Uma terça menor tem sempre 90 graus. Nem mais nem menos.
Agora, veja bem: dado um nome, nós sabemos exatamente o tamanho do intervalo. Mas o oposto não é verdade! Se eu disser que um intervalo tem 3 semitons, qual é o nome dele?…
Podem ser dois (ou mais!): uma terça menor, ou uma segunda aumentada. =/ Hein?!
Assim como as notas podem ter mais de um nome, a nomenclatura dos intervalos também sofre da mesma confusão. Se você bem se lembra, o D# e o Eb são dois nomes pra mesma nota. Da mesma forma, o C-D# é uma segunda aumentada, e o C-Eb é uma terça menor (muito embora os dois intervalos tenham o mesmo tamanho!)
Ou posto de modo geral: o intervalo de segunda aumentada tem o mesmo tamanho que o de terça menor.
Intervalos e graus
Uma pequena confusão: os nomes dos ‘graus’ da escala recebem os nomes dos intervalos que fazem com a tônica.
Quer dizer, se estamos numa escala onde o D é a tônica, então dizemos que o F é a terça da escala. Entre o D e o F temos um intervalo de terça; então dizemos que o F é a terça da escala…
A gente normalmente usa os nomes pras duas coisas sem muita preocupação. Mas é bom saber que são duas coisas…
Mais uma pequena confusão
Só pra não perder o costume… Afinal de contas, em música sempre tem uma sacanagem =)
O segundo termo do nome dos intervalos não são sempre os mesmos. Se estivermos falando dos intervalos de 2a, 3a, 6a ou 7a, então o segundo termo pode ser ‘menor’ e ‘maior’. Se estivermos falando da 4a e da 5a, então elas são ‘justas’ e pronto. Não tem duas opções.
Em termos visuais:
Todos os intervalos podem ser aumentados (um semitom a mais) ou diminutos (um semitom a menos). Isso quer dizer que por exemplo, a 4a diminuta é igual à 3a maior; e que a 6a aumentada é igual à 7a menor.
Basta lembrar que a 4a e a 5a são as diferentes. Elas não têm ‘duas opções’… (A 4a e a 5a são especiais em um monte de outros sentidos, como veremos mais adiante…)
Complementos
Outra ‘regrinha’ legal de ter na manga é que a soma dos intervalos não é tão lógica quanto parece à primeira vista (a menos que você entenda de programação de computadores, como eu).
Se somarmos um intervalo de segunda com um de terça, qual é o resultado?… Não, não é uma quinta… é uma quarta!
Esquisito né? =)
Não é não… é simples… sempre dá um a menos… veja bem:
Sendo a oitava um ângulo de 360°, é legal saber que se entre entre as notas X e Y existe, por exemplo, um intervalo de quarta, então entre Y e o próximo X teremos um intervalo de…? quinta!
Ou seja: a quarta e a quinta são ‘complementares’.
Da mesma forma são a 3a e a 6a: A terça do D é o F. Então a sexta do F é o D.
E o mesmo acontece com a 2a e a 7a.
A regra é fácil: a soma tem que dar 9, que é igual a uma oitava. Lembra? sempre um a menos! =)
Convenções
Esses nomes não são o sistema mais simples do mundo, mas vale a pena se familiarizar com eles. Não é nada de tão complicado assim também, e entender isso será muito útil pra podermos falar de outras coisas.
Por enquanto, esses nomes parecem meio sem sentido. Mas à medida que os conceitos de escalas e acordes forem sendo desenvolvidos, todos esses nomes vão fazer mais sentido.
Como sempre, o negócio é tentar segurar um pouco a ansiedade, e tratar as regras (às vezes estranhas, admito) como uma convenção, simplesmente. Por enquanto, preocupe-se apenas em aprender como as coisas foram convencionadas. Depois elas vão fazer mais sentido…
E agora?
Na verdade, bem mais divertido que entender os nomes dos intervalos é entender como eles se combinam.