<< Simples Música

Acordes e suas funções 23/05/2015

Para entender como os acordes do campo harmônico são utilizados em uma música, precisamos primeiro entender como eles se relacionam entre si, assumindo 3 diferentes funções, que usaremos em seguida pra falar de cadências. Vamos a elas!

Compartilhar

Se você leu meu último texto sobre o campo harmônico, já deve saber que uma tonalidade possui 7 acordes básicos que podem ser usados para harmonizar uma música. Mas como esses acordes são utilizados? Em que momento se toca cada um deles e em que ordem?

Para entender isso, é importante primeiro saber que esses 7 acordes podem ser organizados em 3 ‘categorias’ diferentes.

Essas categorias são chamadas de função do acorde.

Entendendo a função de cada acorde dentro da tonalidade, a gente começa a enxergar melhor a estrutura que existe na harmonia da música.

Pra que serve esse acorde?

Antes de mais nada, entenda que essa palavra ‘função’ precisa ser usada com certo cuidado.

O acorde não possui uma finalidade, um propósito. Ele não é como uma faca, que tem a função de cortar os alimentos. Ou como um pincel, que tem a função de espalhar tinta na parede.

O significado comum da palavra função pode nos levar a crer que os acordes, tendo cada um a sua função, devem ser usados com uma finalidade específica em mente. Como se, por exemplo, a gente escolhesse usar um determinado acorde em uma música para cumprir a uma determinada intenção… “Agora quero que a música assuma um clima mais triste, então vou usar o acorde de Sol menor”.

Não é bem isso. Não temos uma caixa de ferramentas cheia de acordes, e precisamos apenas saber qual deles escolher para cada caso… não é isso!

Podemos sim pensar que o acorde possui uma função. E que normalmente podemos trocar um acorde em uma harmonia por um outro de mesma função. Mas não entenda que essa função possui um significado, uma semântica própria. Se o acorde pode assumir uma função, ela se dá tão somente do ponto de vista sintático da estrutura harmônica. Nunca do ponto de vista semântico.

Mas aí já estamos entrando em uma seara muito técnica (que por sinal eu adoro! já que sou cientista da computação) que talvez seja desnecessária por agora.

Tudo o que eu quero deixar claro, por enquanto, é que as funções harmônicas não atribuem uma finalidade ou propósito específico a um acorde.

Entenda dessa forma: atribuir uma função a um acorde é equivalente a dizer que o acorde cai em uma das 3 categorias que existem. Não mais que isso.

Mas apesar de tudo isso, vamos usar essa terminologia mesmo, pois ela é a convenção utilizada por todo mundo.

As 3 funções harmônicas

Vou apresentar as três funções em um esquema visual, que me parece didático. Mas saiba que ele é apenas isso: uma forma esquemática que me parece didática e fácil de lembrar.

A primeira função que veremos é a função assumida pelo acorde de 1o grau da escala. Ou seja, é a função que representa o ponto de partida (ou de chegada), a referência central a partir da qual relacionamos os demais acordes:

A função de Tônica

Obviamente, o primeiro acorde do campo harmônico que assume essa função é o acorde… da tônica =)

* Vou usar a tonalidade de Dó Maior, como sempre. Mas lembre-se que todos os exemplos podem ser transpostos e valem para qualquer tonalidade

Outros dois acordes do campo harmônico possuem função de tônica: o de Em (terceiro grau) e o de Am (sexto grau).

Note como esses acordes são semelhantes! Tanto o Em como o Am compartilham com o acorde de C 2 das 3 notas!

E a terceira nota de cada um deles está a uma terça de distância. Uma delas ‘pra frente’ e a outra ‘pra trás’.

Como o intervalo de terça é o elemento básico utilizado para formar os acordes, adicionar uma terça pra lá ou uma terça pra cá não muda a ‘essência’do acorde. É quase como se esses acordes fossem o mesmo!

E de fato, na maioria dos casos, esses acordes podem ser substituídos uns pelos outros sem mudar a essência da harmonia, apenas o ‘colorido’ da passagem.

Esses dois acordes são também as tônicas de duas das tonalidades mais comuns de se modular a partir da do C maior. Isso quer dizer que músicas na tonalidade de C muito comumente dão uma ‘passadinha rápida’ pelas tonalidades de Am ou Em e depois voltam. (A gente vai falar mais sobre modulação em breve… calma aí!)

A função de Dominante

Diferentemente dos dois acordes que acabamos de ver, o acorde que apresento a seguir não possui nenhuma nota em comum com o acorde de C, veja:

Esse acorde é o ‘Si meio diminuto’, ou ‘Si menor com quinta diminuta’. É a tríade do sétimo grau da escala - aquela que deixei de fora da discussão no post sobre o campo harmônico, lembra?

Se os acordes do 3o e 6o graus (que têm função de tônica) podem ser usados para substituir o de C, já que possuem 2 notas em comum, o acorde de , ao contrário, não pode de jeito nenhum! Se você tocar esse acorde no lugar onde seria o C, todo mundo dá um pulo!

Todas as 3 notas desse acorde estão a uma distância de segunda das notas do acorde de C, o que faz com que esses acordes sejam ‘incompatíveis’ de serem tocados ao mesmo tempo.

Os acordes de Dominante são usados exatamente para criar um movimento de contraposição aos acordes de Tônica, como veremos mais adiante quando falarmos de cadências.

O outro acorde que possui função de Dominante no campo harmônico é o acorde do quinto grau - no nosso exemplo, o de G (Sol maior):

O acorde de G, aliás, é mais característico da função de Dominante do que o . Eu só apresentei ele depois aqui pra manter a sequência (que vai ficar mais clara já já…)

Aliás, o acorde que de fato é O MAIS característico da função de Dominante é o G7 (Sol com sétima) que é justamente o G com a adição da nota F (G-B-D-F) que faz com que ele possua todas as 3 notas da . Ou seja: eles são o mesmo acorde!

Note que a relação de semelhança que esses dois acordes têm entre si é a mesma que os acordes da função de tônica têm entre si: eles compartilham 2 das 3 notas, e por isso são facilmente substituíveis um pelo outro!

A função de Subdominante

A terceira e última categoria de acordes que existe dentro da tonalidade é a que chamamos de Subdominante.

Chegaremos aos dois acordes de Subdominante de forma análoga ao que fizemos para achar os de Dominante.

O acorde de Dm é o acorde ‘oposto’ ao de C, mas dessa vez ‘chegando pra frente’ (ao invés de ‘pra trás’, como no caso do )

E o F nós achamos deslocando o Dm uma terça ‘à direita’, chegando a um acorde que compartilha duas notas com ele:

Note que a relação entre esses acordes é beeem parecida com o caso da Dominante, apresentado acima: O acorde de Dm é o de C deslocado um grau pra frente, sem manter nenhuma nota em comum. O de F é bem parecido com o Dm (assim como C é parecido com Am e Em).

Ah, e da mesma forma, o F é que é o acorde mais característico da função de Subdominante.

Observe essas figuras até captar bem a lógica dessas relações!

Tudo junto, misturado

Vejamos agora esses acordes e suas funções, todos juntos, na mesma figura:

Legal, né? =)

As funções de Dominante e Subdominante são utilizadas nas harmonias para fazer contraposições rítmicas aos acordes de Tônica, criando movimentos de ‘vai e vem’ que chamamos de cadências (a gente chega lá, calma!).

A diferença é que os acordes de Dominante costumam ser vistos como uma contraposição mais forte, mais direta ou imediata que os de Subdominantes. (Talvez daí o nome da função ser ‘sub’-dominante. Como se quisesse dizer que esses acordes são como aqueles, mas em uma ‘sub’ categoria, um pouco mais ‘fraca’)

Com duas formas diferentes de contrapor os acordes de Tônica, é possível desenvolver padrões rítmicos mais ricos, como veremos mais pra frente.

Mas se o método de construção dos acordes de Dominante e Subdominante apresentado aqui foi análogo, porque diabos é que os acordes de Dominante fazem uma contraposição mais forte aos de Tônica do que os de Subdominante?

Uma explicação possível é o fato de os acordes de Dominante possuírem a nota B, já que o movimento B-C exerce uma ‘força’ de resolução bem acentuada nos movimentos melódicos.

É como se o B ‘puxasse’ o C… É por isso que a nota do sétimo grau da escala (nesse exemplo, o B) é chamada de Sensível. Mas isso também é uma outra história…

E as tonalidades menores?

Não vou explicar tudo de novo nesse caso. Apresento logo o diagramão completo apenas para vermos que esse esquema também funciona em tonalidade menores:

Só que nesse caso, para compor os acordes de Dominante, não usamos o G, mas o G# que é a Sensível do Lá. Sem ela não criamos a força atrativa que distingue as Dominantes das Subdominantes.

A escala de Lá menor, com o sétimo grau maior (com o G# ao invés do G), torna-se o que conhecemos como a escala de Lá menor HARMÔNICA. Ou poderíamos dizer: ‘a versão da escala menor, alterada para se formar os acordes’.

E pra que serve tudo isso?

Bom, lá vamos nós de novo, como você já está acostumado… cenas dos próximos capítulos! =)

Para compor uma frase harmônica estruturamos os acordes em cadências, e é justamente aí que toda essa lógica encontra-se com a outra dimensão da música: o ritmo.

Guenta mais um pouquinho aí que a gente vai entender tudo bem direitinho! =)

E claro, se você ainda não se inscreveu aí embaixo para receber os próximos posts por email, essa é a hora!
Se você achou esse post útil, uma ótima forma de retribuir é compartilhando ele com seus amigos pelos botões abaixo:
Compartilhar

Receba por email!

Receba os próximos capítulos fresquinhos em sua caixa de entrada, assim que forem publicados. Você ainda poderá me fazer perguntas, respondendo os emails!

Respeito sua privacidade. Nunca vou mandar spam. Cancele sua assinatura quando quiser.